Acompanhe a rica composição do artesanato brasileiro em um mergulho nos territórios criativos.
Esta série de postagens traz um conteúdo ríquissimo que faz parte da exposição Solo Criativo: uma homenagem aos artesãos do Brasil. Assim, você acompanha tudo o que acontece no CRAB mesmo distante.
Estes textos compõem a primeira sala da exposição, que tem como objetivo apresentar um pouco de cada região do Brasil e mostrar como aquele território dá base para a produção artesanal local. Assim, conseguimos entender a diversidade do artesanato brasileiro sob o olhar da unicidade de cada lugar, com natureza, cultura e influências próprias.
A natureza impotenente do Nordeste e a criatividade artesã
No Nordeste do Brasil se encontram quatro biomas: Cerrado, Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga. Esse último ocupa a maior área da região e é responsável por definir grande parte da dinâmica humana ali presente. A Caatinga tem clima quente e as estações de seca são prolongadas. Esses fatores contribuem diretamente para o tipo de vegetação e animais que no local habitam. E, consequentemente, no tipo de produção material e imaterial da região.
As espécies vegetais se adaptam às estiagens severas, e os artesãos ao que as plantas podem oferecer. Seja fazendo uma agulha de bordado com espinhos de cactos, seja de árvores típicas da Caatinga, como umburana e mulungu, que dão vida a esculturas santas no Cariri cearense, ao imaginário de peças da Ilha do Ferro, ou às xilogravuras no interior de Pernambuco. Os animais deram base para uma gigantesca produção de roupas e acessório. Prática fortalecida pelo ciclo do couro, que teve grande impacto na região Nordeste, deixando-a conhecida em todo Brasil.
O Nordeste é o caldeirão em ebulição cultural do Brasil. Inicialmente, local de morada de indígenas, depois de colonizadores europeus, escravizados africanos, resistências quilombolas e imigrantes de diversos povos do mundo. Essa mistura no território impactou diretamente nos festejos, religiões e nas heranças artesanais trazidas de outros locais. É o caso das cerâmicas que retratam religiões de matriz africana e cristãs, das roupas cravejadas de lantejoulas e canutilhos de miçangas, para dar cor e vida aos maracatus e caboclos de lança ou aos bois do Maranhão, e dos bordados e rendas, tradição feminina portuguesa e francesa, que tomam vida nas mãos de milhares de mulheres espalhadas pela região.
O Norte e seu DNA artesão: uma herança indígena, ribeirinha e quilombola.
O artesanato do Norte é reflexo de muitos fatores. Uma mistura rica do ambiente com o encontro da cultura humana. Grande parte do território da Região Norte vive a dualidade dos extremos: verão x inverno, períodos de cheia x seca, chuvas x estiagem. Somado a isso, o bioma Amazônia é composto por uma floresta tropical e outras ecorregiões. Esses fatores ambientais definem que tipo de material pode ser encontrado para a produção artesanal.
O Norte do país reúne imensa diversidade de culturas através dos diferentes povos que habitam a região e trazem consigo conhecimento tradicional e inovação. É a região com maior número de etnias indígenas do Brasil, além de ser moradia de quilombolas, ribeirinhos, seringueiros, pescadores, entre outros grupos com culturas materiais e imateriais únicas.
Muitos dos objetos artesanais estão presentes nos estados do Norte e se repetem. Temos os exemplos dos paneiros e cestarias feitas em cipós ambé e titica; as peneiras para a produção de farinha, produzidas com a planta arumã; o tipiti, usado para espremer a mandioca, confeccionado com jacitara; as cerâmicas modeladas com diversos tipos de argilas retiradas do fundo dos rios nos períodos de seca.
Outro ponto importante na produção do artesanato está associado aos festejos regionais. O bumba meu boi é uma prática encontrada em diversos pontos do território e tem sua maior expressão em Parintins, no Amazonas, levando centenas de artesãos para a cidade para produzir os elementos típicos das festividades. Outra grande manifestação religiosa são os círios, realizados em diversas cidades, sendo o Círio de Nazaré, de Belém do Pará, o mais famoso. Para pagar promessas dos fiéis, são produzidos ex-votos de cera e madeira em um processo artesanal que materializa a religiosidade.
Texto por Laura Landau