Conheça o Vale do Catimbau e seus artesãos 

O Vale do Catimbau impressiona pela natureza, história e criatividade. Uma região que reúne pinturas rupestres, paisagem deslumbrante e artesãos que desenvolvem peças criativas e únicas a partir de matéria prima local. Mestre Zé Bezerra, Mestre Luiz Benício e Simone Souza, entre outros artesãos, transformam o local em museu a céu aberto e se somam ao impacto econômico e turístico do território.  

O Vale do Catimbau se localiza no interior do estado de Pernambuco, a 290km de Recife, entre o agreste e o sertão. Também conhecido por Parque Nacional do Catimbau, criado em 2002, em seu território se encontram os municípios de Buíque, Tupanatinga e Ibimirim, e abriga uma das últimas áreas do bioma Caatinga. Com riquezas científicas, é o segundo maior parque arqueológico do país, com paredões de rochas e grutas, possuindo cemitérios pré-históricos e pinturas rupestres milenares.  

Parque Nacional do Catimbau. Foto: Almir das Neves Araujo

No município de Buíque podemos encontrar um verdadeiro museu a céu aberto, onde diversos ateliês de artesãos compõem a beleza e a cultura da região. O Sítio Igrejinha é a região no município que organicamente virou “universidade” de artes. Lá, o conhecimento está em constante partilha e desenvolvimento, formando novos artistas. Nessa localidade se encontram os ateliês dos três artesãos que apresentaremos a seguir.

Mestre Zé Bezerra – O artesão e suas madeiras vivas 

José Bezerra nasceu em Buíque no ano de 1952. Ainda morador da mesma cidade, vive com os cinco filhos e a esposa. No quintal de sua casa de taipa é possível ver suas obras espalhadas, criando um cenário fantástico, onde os olhos se confundem parecendo que árvores criam vida e se transformam em animais, pessoas e seres do imaginário. O artista aproveita troncos de umburana secos, árvore típica da região, para criar suas esculturas. Em um processo de exploração e garimpo natural, apenas utiliza aquelas que já estão mortas, ensinamento que faz questão de passar para seus aprendizes.  

O artesão busca em sua memória muitas das peças que cria, como no caso do cangaceiro que ele afirma ter assistido seu parto, agora, fora de sua lembrança, tomando forma em uma obra de madeira de quase dois metros. Com fragmentos de realidade e imaginação as peças de diversos personagens ganham vida e preenchem a paisagem: “Quando vem alguém aqui e me pergunta de onde vem a inspiração, eu digo que vem dos espíritos dessa Caatinga” (1). Suas esculturas já foram expostas em todo Brasil, assim como na Alemanha, Itália e França.  

Foto: Tiago Henrique, 2019. / Foto: Germana Monte-Mór.

 

Mestre Luiz Benício – A força do artesanato rústico de um grande artesão

Mestre Benício tem seu ateliê no município de Buíque, no Agreste do Estado de Pernambuco, vizinho ao Mestre Zé Bezerra, de quem foi aprendiz. Sua trajetória começou de forma inusitada, como ele mesmo conta: “Um certo dia, um vizinho meu que também é artesão, fez um tatu e veio me mostrar. Eu, com meu olho clínico, fiz uma crítica construtiva, dizendo a ele que o tatu parecia mais um jumento, e que nós precisávamos nos unirmos para melhorar a peça. Naquele mesmo dia eu fui pra casa dele para fazer um tatu e eu mesmo fiquei surpreso com a obra”. (2)

Desde então não parou mais. Como aprendeu, sua matéria prima sempre foram as madeiras de árvores mortas, encontradas na natureza. Processo que considera importante e sustentável, e que também contribuem para a sua marca registrada, que são belíssimas esculturas rústicas e sem pinturas, dando vida a criaturas do seu cotidiano. “Tenho minha própria identidade. Cada obra traz minha assinatura, mas também traz o meu traço, mantendo ele sempre rústico, pra que ele seja identificado em qualquer lugar do mundo”.

Mestre Luiz Benício produzindo e uma de suas obras – Fonte: Artesanato de Pernambuco.

 

Simone Souza – Mulher artesã e a representação de seu imaginário

Simone Souza é uma grande artesã, aprendiz de Mestre Benício. Ela é uma das poucas mulheres na região a fazer a arte local. Compondo parte desse complexo cultural do saber e transmissão de conhecimento, segue a tradição e sempre se propõe a ensinar aos que se interessam, tentando engajar outras pessoas na arte do entalhe e, assim, trazer recurso financeiro para mais pessoas.

Gosta de fazer arte sacra ou personagens do seu cotidiano, e e quase sempre deixa a forma da madeira que encontra lhe soprar o que deve ser esculpido. Já as peças religiosas é o inverso, elas têm um formato específica e a madeira que sede sua estrutura.

Simone Souza e suas obras. Fonte: Instagram Simone Souza

O Vale do Catimbau é um território de grandes potências humanas, artísticas e naturais, que modifica quem ali vive e inspira a criação, que tem caráter místico e imaginário. Aqui apresentamos alguns dos vários artesãos que escolheram o local como morada, porém não deixe de pesquisar sobre os demais criativos que enriquecem a região.

Texto por Laura Landau.