Uma comunhão de crenças e costumes, envoltas em vestimentas artesanalmente produzidas, os Reisados encantam o Brasil.
Sob o comando de um mestre, grupos de companhias de Reis celebram o nascimento de Jesus e a visita dos sábios à cidade santa. Com suas danças, cantorias, versos, adornos e peças artesanais, encantam milhares de brasileiros que acompanham as comemorações nas principais capitais do país.
O Reisado, também conhecido como Folia de Reis, manifestação cultural, religiosa e folclórica trazida para o Brasil pelos portugueses, durante a colonização, referência a viagem dos três reis magos: Baltazar, Gaspar e Belchior à Belém, para presentear, em sinal de devoção e respeito, o menino Jesus. As festividades acompanham o rito da peregrinação dos sábios no período de 24 de dezembro até o dia 06 de fevereiro.
Durante esses doze dias várias cidades do Brasil, como Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais, Espírito Santo, Goiás, Ceará, Bahia, Piauí, organizam as festas e promovem uma verdadeira romaria, visitando moradores e levando a essência da história para a população. As celebrações remetem a adoração ao divino em suas cantorias, danças, encenações teatrais, vestimentas e comidas típicas, apresentando para as novas gerações narrativas encenadas sobre fatos históricos e o folclore brasileiro. A Folia de Reis, em algumas cidades do país, é declarada como Patrimônio Imaterial, dado a sua importância para a história e ao revelar características regionais que tornam o evento único.
Comemorações ressaltam riqueza cultural e a relevância do artesanato em diferentes regiões do país
Empunhando estandartes, bandeiras cuidadosamente produzidas por artesãos, os brincantes trazem a representatividade das tradições e a história cultural de cada região.
A diversidade característica, de cada localidade, é responsável em levar riqueza cultural para as comemorações do reisado. Comidas típicas, cantorias, versos, danças e o artesanato reúnem famílias de foliões, de geração em geração em torno da magia da festividade, perpetuando a tradição e os costumes regionais. A Folia de Reis é conduzida pelo Grupo de Reisado, também conhecido como Companhias de Reis que contam em sua formação com um mestre, contramestre, os três reis magos, palhaço, alferes e brincantes. Os participantes levam instrumentos musicais como sanfona, gaitas, violão, tambor, pandeiro, e chocalhos, alguns desses construídos artesanalmente para o Reisado.
Durante os dias de peregrinação, os moradores recebem visita dos cortejos com música e orações relembrando a jornada dos reis magos e o nascimento do menino Jesus.
No Ceará, o Reisado Mestre Dedé de Luna segue a tradição das festividades em suas apresentações e é considerado uma das referências da folia. A comemoração, que durante muitos anos foi orquestrada por homens, recebeu o protagonismo feminino nos grupos de reis como o liderado pela filha de Dedé, Mestra Mazé Luna, que conduz o Reisado Decolores Dedé de Luna, no qual as mulheres participam de todas as encenações das comemorações.
Indumentárias confeccionadas de forma artesanal, com riqueza de detalhes, ressaltam a importância na Folia de Reis e a luta para não deixar a tradição morrer. Os trajes, compostos de saiotes, brasões, coroas, adornos, chapéus nos tons de dourado, vermelho e azul, reforçam a beleza do folclore e a manifestação cultural brasileira.
Artesãos traduzem a Folia de Reis em pinturas, adereços e obras de arte
A devoção de foliões e a perpetuação da tradição dos reisados no seio familiar é responsável em formar artistas que contam a história em traços, desenhos, peças e adornos, fazendo do artesanato instrumento principal para revelar, em obras de arte, a adoração ao divino.
O pai Bastião dos grupos de Reis, o pintor Marcos José dos Santos é um desses devotos que trouxe essa relíquia, vinda de gerações, e retratou nas paredes de sua residência, em Mococa, São Paulo, a viagem dos três reis magos à Belém.
Além das pinturas, quadros e outras obras, o artista produz também as máscaras para as comemorações. Confeccionadas em material como couro, fitas coloridas, pelego, chitão e flores brancas, as máscaras são doadas para os foliões das companhias de Reis de Mococa.
O Presidente da Associação Folclórica de Mococa, João Ramalho ressalta que “Marcos José, além de ser um grande pai bastião e versista, é artista do pincel e retrata todo o enredo das festividades em quadros e obras. Ele é um grande artesão da Folia de Reis. Mococa é um celeiro de artesãos de máscaras, fardas e espadas.” (TV Direta,2017)
Indumentárias carregam um arsenal cultural e histórico em cada detalhe
Tão importante quanto os personagens que encenam as comemorações, as vestimentas utilizadas pelos participantes dos grupos de Reis revelam não só a orquestração de cada etapa da peregrinação dos reis magos.
A partir das tradições regionais, artesãos de cada região dão vida as indumentárias. Similares a farda militar romana, as roupas dos foliões mostram autoridade, poder, crença religiosa e magia. Em suas composições, entram laços, fitas de cetim, flores, penas, todos costurados a mão, além de diferentes matizes (remetendo aos dos presentes dados pelos magos) que transformam a encenação em um grande espetáculo teatral.
Os estandartes compostos de materiais similares, além de imagens de santos e orações, reforçam a tradição católica e representam o sagrado. Com muitos tecidos e cores descontraídas, as roupas dos palhaços trazem um brilho especial ao personagem.
Reisados se desdobra em iniciativa de artesão que é contemplada com a Lei Aldir Blanc
A simbologia das comemorações dos Reisados encontrou destino certo nas mãos do artesão Marcos Paulo Sousa, morador da cidade de Caturaí, em Goiás. O artista inspirado pelas festividades de Reis confecciona peças retratando a chegada dos reis magos e o nascimento de Jesus, utilizando insumos descartados por pamonharias, dentre eles, a palha de milho. O item, além de coadjuvante na confecção de peças artesanais como bonecos, bolsas, chapéu, objetos de decoração e enfeites, estimula, de forma sustentável, a produção artesanal e reduz o desperdício dos insumos.
Segundo a Prefeitura de Caturaí, o projeto foi contemplado pela Lei Aldir Blanc e doado para o município. A iniciativa agora é objeto de pesquisa para que mais artistas possam inovar e trazer um novo olhar sobre a produção artesanal. A Lei Aldir Blanc de Fomento à Cultura (PNAB) prevê o investimento de R$ 15 bilhões em estados, municípios e no Distrito Federal até o ano de 2027, contemplando projetos de promoção do desenvolvimento humano, social e econômico no que diz respeito ao acesso à cultura, diversidade e democratização.
Bibliografia
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