Aprenda um pouco mais sobra as oficinas artesãs de madeira, cerâmica e trançado
Esta série de postagens traz um conteúdo riquíssimo que faz parte da exposição Solo Criativo: uma homenagem aos artesãos do Brasil. Assim, você acompanha tudo o que acontece no CRAB, mesmo distante. Esta é a última postagem. Então, se você não leu as anteriores, volte lá para conhecer tudo o que rolou sobre a nossa exposição. Apresentaremos aqui o conteúdo da segunda sala da nossa mostra:
Sala 2. A síntese artística: a casa, a oficina e as pessoas
O lar e a oficina são por vezes um único cenário. São espaços de socialização e aprendizado, onde o profissional se mistura aos seus familiares. É observando, ouvindo histórias e colhendo restos de materiais descartados que muitos artesãos iniciam sua trajetória profissional, mantendo viva a tradição artística de sua família e reafirmando sua importância como representantes da cultura local. A formação do artesão se dá num sistema de trocas mútuas de aprendizado, proporcionando a articulação de saberes e a liberdade de criação e inovação, nos presenteando diariamente com a primazia do fazer a mão.
Nesta sala, apresentamos três técnicas e a sua forma de produção mediante a interação do artesão com o meio que o cerca: entalhe em madeira, modelagem em cerâmica e trançados em fibras vegetais. É a verdadeira escola da vida, em que teoria e prática se unem dando sentido ao processo humano mais genuíno que admiramos: o artesanato brasileiro.
Trançado com fibras naturais
As fibras naturais são matérias primas que dão estrutura a diversos objetos. Um plano consegue ganhar dimensões tridimensionais a partir de entrelaçamento de seus fios. Assim, temos a composição de caixas, cestos, vasos, leques, peneiras e outros objetos tão necessários e comuns para muitos brasileiros. Da produção da farinha de mandioca à decoração das salas em centros urbanos é possível encontrar objetos feitos a partir do trançado de palhas.
As palhas e fibras são provenientes de diversas espécies encontradas em território nacional e passam por tratamentos específicos que garantem sua maleabilidade, proteção contra pragas e preparação para uso. Cada grupo artesão desenvolve uma forma de preparar suas fibras a partir de conhecimento etnoecológico elaborado por diversas gerações. Para criar um objeto de fibras naturais é possível usar inúmeras espécies, dentre elas palmeiras, como buriti, tucumã, açaí, ou gramíneas, como arumã, milho, bambu.
Artesanato em entalhe de madeira
Madeira é o tecido lenhoso de árvores e estima-se que existam por volta de 73 mil espécies no planeta. Uma matéria prima abundante e renovável, se tratada com inteligência e respeito necessário. A madeira é utilizada pela população humana desde os primórdios para construções e desenvolvimento de produtos, e assim, dá base para grande parte da vida que compreendemos hoje em dia.
No Brasil existem diversas espécies de árvores graças à longa manutenção e manejo de povos originários, que através de suas práticas, possibilitaram o crescimento da biodiversidade em comunhão com as necessidades humanas. Muitas delas são espécies utilizadas por artesãos para produção de objetos utilitários ou decorativos, como a umburana, a jaqueira, o mulungu, o roxinho, o cedro etc. E cada artesanato necessita de uma especificidade diferente, que as diversas espécies oferecem. Existem peças que precisam de madeiras macias para serem entalhadas, como o mulungu.
Outras, que tem o objetivo de serem mais duráveis, são feitas com madeiras mais duras e resistentes a insetos e fungos, como a umburana. A escultura em madeira é um trabalho fino e que precisa de grande prática para se alcançar um nível preciso de entalhe. Muitos artesãos levam anos para conseguir aperfeiçoar suas peças e garantir um alto nível em suas obras.
A cerâmica como matéria prima do artesão
As produções em cerâmicas refletem os tipos de solos e materiais encontrados em cada região e cada grupo artesão desenvolveu um conhecimento específico para trabalhar as especificidades dos barros locais.
Quando ainda cru, o barro moldado volta ao seu estado natural ao entrar em contato com a água. É a partir da queima acima de 800º que as peças de argila vitrificam e se mantem estáticas, com formato permanente quando em contato com a humidade. Para a produção de uma peça é necessário seguir várias etapas como: retirada do barro, secagem do barro, quebra das pedras de barro para transformar em pó, peneiração do pó, preparo do agente ligante e de proteção natural (muitas vezes cinzas de árvores específicas ou areia), hidratação do pó e mistura do agente, modelagem, pintura, queima. Existe uma variedade enorme de tipos de preparos e produção de peças cerâmicas que mudam de acordo com material e saber acumulado, logo, as etapas descritas anteriormente variam de grupo para grupo.
Texto por Laura Landau e Bruna Pelegrino.