Biografia de Mayawari Mehinako
“Nasci em 18/03/1989 e moro na aldeia Kaupüna do Parque Indígena Xingu, município de Gaúcha do Norte (MT). Sou professor graduado em Línguas, Artes, Literaturas e também sou artista de designer estética em madeira. Fui premiado pela Casa Vogue, tenho experiência como artista e fui fundador e presidente do Instituto de Arte Indígena Brasileira Xepi. Sou expositor de arte Menihaku nas feiras das exposições nacionais e internacionais. Exerço a função da curadoria de exposições junto com outros curadores. Também faço parte da liderança da representatividade do meu povo Menihaku e dos povos do Xingu”.
Mayawari pertencente à etnia Menihaku e acompanhou a história da arte de seu povo através de seu pai, um artista especializado em plumagem, cestaria, pintura, escultura, biojóias e colares. Ele aprendeu todas essas habilidades com seu pai, que era um mestre na criação de peças artísticas e ensinou seu povo. O objetivo de Mayawari ao aprender a profissão artística é manter viva a arte do povo Menihaku, que faz parte do dia a dia da comunidade. As criações não são feitas como objetos de fantasia, mas para uso cotidiano, como bancos, cuias, remos e outros itens. Assim, seu principal objetivo é preservar a arte de sua etnia ensinando as gerações futuras.
Quando Mayawari e a arte do povo Menihaku entraram no mercado do artesanato, ele percebeu a importância de gerar renda para seu povo, tornando-se um de seus objetivos produzir e transmitir esse conhecimento para as próximas gerações. A arte criada por ele e sua comunidade é variada, incluindo arcos, cuias, bancos e outros materiais de madeira, como moreira, jatobá, piranheira, sucupira, ipê, entre outros. A arte da plumagem para fazer colares e brincos também é feita por membros de sua etnia, embora Mayawari ainda não tenha aprendido a fazer esses objetos.
A Aprendizagem e a Transmissão do Conhecimento
Mayawari continua aprendendo coisas novas. Testou outras artes, como a cestaria, mas não avançou tanto nesse aprendizado. Todos os conhecimentos que adquiriu foram absorvidos durante a “fase de reclusão”, um rito de passagem de sua cultura, um período para aprender essas tradições. Outro objetivo de Mayawari ao se tornar artista/artesão é defender a arte pertencente ao seu povo. “Todos nós do Xingu precisamos entrar em contato com a nossa arte, ela diz muito sobre nosso passado e sobre quem somos.” Ele entende que precisa aprender essa arte e levar a história e cultura de seu povo para fora da comunidade, nas cidades grandes e fora do país. Mayawari ressalta a importância de contar suas próprias histórias, rituais e como as coisas funcionam dentro de sua comunidade, em diálogo com sua expressão artística. Existe a necessidade de mostrar para os não-indígenas qual o significado e o contexto daquela arte.
Para confeccionar bancos, utilizam facão, machado, lima e broca. Mas, atualmente, também empregam a motosserra para agilizar o trabalho, além de outros equipamentos elétricos como lixadeiras, esmerilhadeiras e politrizes para fazer o acabamento. Cada pintura tem um significado, e diversos materiais são usados para dar acabamento, como escamas de peixe, dentes de peixe piranha, grafismo de morcego, casca de jabuti, entre outros. A tinta preta para pintar madeira, por exemplo, é feita de uma resina de uma planta chamada ingá, que misturada com carvão em pó se transforma num tipo de tinta. A tinta vermelha vem do urucum, aplicada sobre a resina de ingá. A cor branca é obtida da terra branca encontrada no campo e no brejal. E a amarela é feita de açafrão, utilizado também nas pinturas corporais.
A Importância da Arte para a Comunidade Menihaku
Existem trabalhos específicos para homens e mulheres na comunidade. As mulheres, por exemplo, se dedicam à produção de redes, esteiras, cuias e colares. Hoje, Mayawari se considera um mestre em algumas artes, mas reconhece que ainda tem muito a aprender, principalmente com seu pai. Ele destaca que o aprendizado das artes é coletivo, envolvendo primos e tios, e que todo material é obtido no mato ou no campo, com o acabamento sendo feito na casa ou na aldeia. Observando e pesquisando, em contato com a terra, a arte se desenvolve.
A Tradição Cultural dos Mehinaku
O povo Menihaku habita a região sul do Alto Xingu. Divididos em cinco aldeias com aproximadamente 500 pessoas, são falantes da língua materna da família linguística Aruak. Os nomes das aldeias são: Menihaku, Utawana, Kurisevo, Aturua e Kaupüna. As aldeias são ligadas ao município de Gaúcha do Norte no Estado do Mato Grosso. As aldeias possuem seus caciques e membros das lideranças que são responsáveis por suas comunidades. Eles vivem da pesca e da caça, e costumam comer beiju feito de massa e polvilho de mandioca. As festas e rituais são praticados cotidianamente para alegrar os espíritos, onde as pessoas se reúnem para celebrar juntos com danças e cantos sagrados.
A aldeia é circular e em volta têm as ocas tradicionais cobertas de palhas de sapé e madeira, onde os donos moram com suas famílias. Existe uma agricultura tradicional que cada um responsabiliza suas plantas. Na aldeia, há produção de arte Menihaku, como bancos, remos, cestas, esteiras, artigos de acessórios, panelas de cerâmica, máscaras espirituais, cuias de cabaças, entre outros produtos artesanais. Assim, o povo Menihaku mantém sua cultura viva, tradição, língua e os conhecimentos são ensinados de geração em geração.
A Importância dos Bancos na Arte Indígena
A arte indígena vem da cosmologia de cada povo, tornando-se um símbolo étnico conforme sua expressão artística ancestral, contemporânea e espontânea. O banco é usado para sentar-se no cotidiano e nas práticas culturais de assento ritualístico. O banco está presente na casa dos indígenas, sendo feminino ou masculino, conforme o gênero do dono da casa. Por isso, os bancos possuem desenhos de animais sexuados e gravuras que remetem ao mundo espiritual dos povos indígenas, como um útero feminino ou um pênis masculino. Além disso, os bancos são considerados peças importantes para exposições em museus culturais internacionais por serem autênticos e únicos de cada tribo.
Os bancos são feitos em madeira maciça esculpida à mão, com desenhos geométricos ou figuras zoomórficas representando animais importantes para a tribo como jaguar, tartaruga, cobra, entre outros. Também são encontrados em formas de animais e pássaros mitológicos. As madeiras mais comuns usadas para a confecção dos bancos são o cedro vermelho, itaúba, louro preto e outras espécies amazônicas. Os artistas costumam esculpir a madeira até alcançar as formas planejadas e depois decoram com grafismos tradicionais e pinturas que remetem aos seus peixes, num universo de floresta amazônica exuberante.
Os bancos são esculpidos sempre partindo de um único tronco de madeira, sem juntas ou emendas, produzidos manualmente com as seguintes ferramentas básicas: facão, enxó, machado, lima, formão e grosa, além de equipamentos elétricos, como lixadeira e politriz, para polir e dar o acabamento final. Para pintar os bancos com desenhos tradicionais, utiliza-se a resina de uma planta como tinta natural. Os desenhos incluem peixes, animais e insetos, misturados com pó de carvão fino. A cerda do porco urucum é usada para criar os vermelhos nos bancos. Antes da pintura final, aplica-se a cera de abelha com parafina, para selar a cor. Por fim, o óleo de pequi é utilizado para impermeabilizar os bancos.
A divulgação da arte indígena é extremamente fundamental, pois simboliza os povos tradicionais e sua cosmologia. Isso permite que o mundo conheça o verdadeiro patrimônio artístico brasileiro, mantendo vivas as tradições e produções históricas. As vendas de arte indígena se tornaram um meio de geração de renda familiar e comunitária, melhorando a qualidade de vida nas aldeias e garantindo apoio financeiro para um povo que preserva sua identidade cultural através da arte.