Conheça mais deste artesão que produz réplicas perfeitas de peças tapajônicas e marajoaras.

Jefferson Paiva é um ceramista e pesquisador paraense, morador da cidade de Santarém. Como muitos outros artesãos, sua história começa no seio familiar, entretanto se expande para outros territórios, como universidades, misturando a prática artesanal com ciência.

Seus avós começaram a fazer cerâmica na década de 1930, sendo ele agora a terceira linhagem da família que segue no ramo. O ceramista aprendeu com seu pai, que faleceu quando ele tinha apenas 12 anos de idade. Hoje com 42 anos e 3 filhos, sustenta sua família com as riquezas que o barro traz.

Sua história com o artesanato começou através do seu pai e dos seus avós. Jefferson se considera um sujeito de sorte, pois nasceu no meio de duas famílias ceramistas. Tanto o seu avô paterno quanto o materno aprenderam essa arte quando eram crianças, na década de 30. Seu pai sempre lhe falava para seguir com esse legado e, assim, dedicou sua vida ao artesanato. “Eu acho que o meu dever nesse planeta aqui é dar continuidade. De ser uma ponte entre o povo do passado e povo atual”, diz o artesão com orgulho.

Artesanato tradicional familiar tapajônico e a inovação do aprendizado.

Um grande diferencial que a tradição de sua família traz é a cerâmica arqueológica, pesquisa iniciada por seu pai que começou a fazer réplicas de peças da cultura tapajônica e marajoara. Jefferson sempre lembra dele lhe ensinando, explicando todo o processo da produção, e como uma criança curiosa, ele acompanhava de perto tudo e com muita atenção. “Foi uma das melhores coisas que aconteceu na minha vida. Até hoje cada peça que eu faço me lembro do ensinamento do meu mestre. E sou muito feliz de viver do artesanato, de viver da produção de cerâmica. Eu me sinto realizado.”

Com a base fortalecida dos ensinamentos de sua família, Jefferson e resolveu se especializar na área cursando graduação de arqueologia, na Universidade Federal do Oeste do Pará (UFOPA). “Eu não queria só fazer a cerâmica tapajônica, eu queria aprender mais sobre essas populações que fizeram essa cerâmica mil e quinhentos anos atrás. E isso me levou a fazer uma pesquisa bem aprofundada sobre a cerâmica, não só de Santarém, mas de toda a Amazônia”. Pontua que seu aprendizado é constante, unindo o artesanato com a ciência. Hoje ele está na pós-graduação, fazendo mestrado no Museu Emílio Goeldi, em Belém, que possui acervo arqueológico de 120 mil objetos.

Além de sempre atualizar seu conhecimento, ele também faz questão de repassar o que aprendeu, realizando oficina em aldeias indígenas da região com o intuito também de trazer de volta essa produção cerâmica, que ficou perdida ao longo do tempo, para os povos originários se apropriarem. Também realiza aulas práticas em seu ateliê para repassar seu ofício e gerar renda para a comunidade do entorno, além de sensibilizar adolescentes e crianças.

Produção precisa com base em réplica Foto: Jefferson Paiva.

 

Uma produção artesanal científica.

Sua produção começa com o estudo das peças diretamente do acervo do museu, universidades ou livros. Precisamente tira medidas e identifica cores antes de fazer suas réplicas, usando sempre paquímetro e réguas para garantir a maior similaridade com as peças originais. Jefferson adquire a massa da argila em olarias de tijolo da região, únicas com licença ambiental para extração do material. É então que prepara a massa e modela, se atentando ao tamanho e medidas, já que a argila perde água durante a queima e diminui de tamanho. Depois de seca é hora de ir para o forno a lenha, construído por ele mesmo. Em breve planeja adquirir um forno elétrico para deixar sua produção mais eficiente. Após o processo de queima, é o momento da pintura (quando não é feita antes da peça ir ao forno) e do acabamento, uma de suas especialidades, já que remete ao desgaste de uma peça arqueológica e antiga.

Parte do Ateliê Foto: Jefferson Paiva.

 

A peça pronta para venda é então divulgada. Seus maiores consumidores são lojistas, clientes online e turistas. Ele diz se surpreender com o número de visitantes em seu ateliê. Mas sua maior fonte de venda é através de seu Instagram e por encomendas, muitas vezes internacionais, para colecionadores de outros países. Para aqueles que visitam seu ateliê costuma apresentar todo o processo, que se inicia na pesquisa em sua coleção de livros, depois mostra a oficina com material de produção, ferramentas e forno. O artesão adora essa aproximação com as pessoas que valorizam sua arte e suas portas estão sempre abertas para visitas.