Organização financeira para fortalecer o artesão e o artesanato

 

Por que a gestão financeira é tão importante no artesanato
A gestão financeira e sua importância para o artesanato

 

Por que a gestão financeira é tão importante no artesanato?

O artesanato brasileiro é uma das expressões mais autênticas da identidade cultural do país e, ao mesmo tempo, um motor econômico significativo. Com impacto relevante na geração de renda, inclusão produtiva e valorização de saberes tradicionais, estima-se que o setor movimenta aproximadamente R$ 50 bilhões por ano, mas ainda carece de estruturação empresarial e apoio técnico em larga escala.

Dentro desse contexto, a gestão financeira se torna um eixo essencial para a sustentabilidade dos pequenos negócios. Sem controle financeiro, o artesão corre o risco de trabalhar no prejuízo, precificar mal seus produtos, comprometer o abastecimento de materiais e, em última instância, inviabilizar sua atividade criativa como fonte de renda. Uma boa gestão das finanças permite planejar, investir, tomar decisões com clareza e enfrentar crises com mais resiliência — algo fundamental em um setor que ainda lida com sazonalidades, informalidade e falta de acesso a crédito.

A ausência de práticas de gestão também compromete a entrada em mercados mais exigentes, como vendas institucionais, exportações, feiras de design ou lojas colaborativas. O artesão pode ter um produto valioso culturalmente, mas será pouco competitivo se não tiver clareza de seus custos, margens, prazos e metas..

 

Principais desafios da gestão financeira no artesanato

Mistura entre finanças pessoais e do negócio

Um dos erros mais recorrentes é não separar as entradas e saídas do negócio das despesas domésticas. Isso torna impossível saber se a atividade está sendo lucrativa. Segundo o Sebrae (2022), mais de 60% dos artesãos informais entrevistados não possuíam controle individualizado de finanças.

Falta de controle sobre o custo real de produção

Muitos artesãos não contabilizam corretamente o tempo de trabalho, o desgaste de ferramentas, o custo de transporte ou embalagens. Isso leva à subprecificação. De acordo com o Observatório da Economia Criativa de Minas Gerais (2021), mais de 70% dos artesãos entrevistados não sabiam calcular o custo por unidade produzida.

Precificação baseada na intuição ou concorrência

Quando o preço é definido sem base em dados concretos, o risco de prejuízo é alto. Muitos artesãos se sentem pressionados a cobrar menos por medo de perder clientes — o que desvaloriza o trabalho artesanal.

Baixa formalização e falta de acesso a crédito

A informalidade impede o acesso a editais, incentivos fiscais, licitações e microcréditos. O Sebrae (2022) estima que menos de 40% dos artesãos são formalizados como MEI ou microempreendedores.

Ciclos sazonais e ausência de fluxo de caixa

Vendas concentradas em datas comemorativas sem planejamento ao longo do ano expõem o negócio a riscos financeiros.

Estoque parado ou mal dimensionado

Estoque excessivo compromete o capital de giro. A gestão de estoque precisa estar integrada ao planejamento financeiro.

 

Ateliê organizado (Paty Pergon, 2019)
Ateliê organizado (Paty Pergon, 2019)

 

Boas práticas para uma gestão financeira eficiente no artesanato

Separar contas pessoais das do negócio

Abrir uma conta bancária exclusiva ou usar registros separados evita confusões e permite uma análise mais precisa das finanças do negócio.

 

Registrar todas as movimentações

É fundamental anotar custos com materiais, transporte, embalagens, feiras e receitas com vendas. Isso pode ser feito em cadernos, planilhas ou aplicativos.

 

Calcular corretamente o custo de cada peça

Inclua todos os insumos, tempo de trabalho, custos indiretos e margem de lucro. O Sebrae oferece planilhas gratuitas que ajudam nesse processo.

 

Controlar o fluxo de caixa

É importante prever e acompanhar receitas e despesas mensais para manter a sustentabilidade do negócio.

 

Atualizar a precificação

Rever os preços com base na inflação, aumento de custos ou mudanças de mercado é essencial.

 

Utilizar ferramentas simples

Aplicativos como MEI Fácil, QuickBooks, Nibo, ou o App Sebrae são boas opções para organização.

Formalizar o negócio

A formalização como MEI ou emissão da carteirinha do SICAB amplia as possibilidades de atuação no mercado e o acesso a políticas públicas.

 

 

Artesão com produção organizada e sistematizada (Fonte: Socialismo Criativo, 2019)
Artesão com produção organizada e sistematizada (Fonte: Socialismo Criativo, 2019)

 

Passo a passo para começar sua gestão financeira do zero

1. Trate o artesanato como um negócio

2. Separe contas pessoais das comerciais

3. Anote todos os gastos e ganhos

4. Calcule corretamente os custos por peça

5. Crie um fluxo de caixa simples

6. Revise seus preços periodicamente

7. Torne-se MEI ou tire sua carteirinha do SICAB

8. Busque capacitação contínua

9. Comemore as conquistas

 

Bibliografia:

BRASIL. Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua, 2022.

SEBRAE. Diagnóstico do Setor de Artesanato Brasileiro. Brasília: SEBRAE, 2022. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/. Acesso em: 30 mar. 2025. OBSERVATÓRIO DA ECONOMIA

CRIATIVA DE MINAS GERAIS. Relatório de Diagnóstico do Artesanato Mineiro, 2021. Disponível em: https://www.obecmg.org.br/. Acesso em: 30 mar. 2025. https://patypegorin.net/atelie-em-casa/ https://www.socialismocriativo.com.br/arte-rupestre-ceramica-da-serra-da-capivara-melhor-projeto-de-sustentabilidade-do-brasil/