A produção de cerâmica na Serra da Capivara se conecta à história humana e geológica da região. Uma atividade criativa e econômica que se reinventou a partir da identidade local com as pinturas rupestres. A partir de importantes atores da região, hoje as peças artesanais alcançam o mundo e levam o artesanato do Brasil para outras fronteiras.
O Parque Nacional Serra da Capivara se localiza no Piauí, no sudeste do estado, e se expande por quatro municípios: São Raimundo Nonato, João Costa, Brejo do Piauí e Coronel José Dias. A cidade mais próxima à sede é a Coronel José Dias. Ocupando aproximadamente 130 mil hectares, foi decretado parque no dia 5 de junho de 1979 e foi declarado em 1991 Patrimônio Cultural da Humanidade pela Organização das Nações Unidas pela Educação, Ciência e Cultura (Unesco).
A vegetação de Caatinga é uma das atrações paisagísticas, mostrando beleza exuberante. Além disso, é de grande importância arqueológica, já que seus sítios atraem cientistas de diversos locais do mundo, a fim de pesquisar sobre inúmeros artefatos líticos, esqueletos humanos e pinturas rupestres. Todo esse material aproxima o presente do passado e joga luz na história do povoamento das Américas. Até o momento, o parque possui 737 sítios arqueológicos registrados.
Artesanato da Serra da Capivara para o mundo
Na cidade de Coronel José Dias, em 1994 foi fundada a empresa Cerâmica Artesanal Serra da Capivara. Um projeto que objetivava trazer visibilidade para o parque, para as pinturas rupestres e para a prática do artesanato com cerâmica. A arqueóloga Niéde Guidon, que descobriu o maior conjunto de sítios arqueológicos das Américas e que veio a se transformar no Parque, também foi uma das principais responsáveis pela abertura da empresa. A cientista entendeu a importância do artesanato para fortalecimento territorial e vice-versa e, assim, estruturou a empresa, que tem sua marca registrada a impressão das pinturas rupestres do parque em peças de utilitários em cerâmica.
A empresa trouxe fortalecimento para pessoas do povoado de Barreirinho, que fica na zona rural de Coronel José Dias. Com capacidade produtiva de até 10 mil peças por mês, utilizam argila da região com acabamento de esmalte, que é vitrificado na queima. Por representar com seus desenhos rupestres os tesouros do parque, as cerâmicas da Serra da Capivara têm identidade forte e são reconhecidas extra território, se tornando um ícone do estado do Piauí. A empresa, hoje comandada por Girleide de Oliveira, produz diversos itens como prato, xícaras, copos, jarras, etc, sendo produzidos por cerca de 40 artesãos.
Todo ano, o complexo de produção de cerâmicas da região manda peças para outros países como Itália, Espanha e Estados Unidos, assim como já estabeleceram parcerias nacionais com algumas das principais empresas de decoração do Brasil, como a Tok Stok, Pão de Açúcar e Etna Móveis e Decoração.
Sustentabilidade e artesanato andam lado a lado
Além de valorizar seu território com os desenhos rupestres na produção artesanal, a Cerâmica Artesanal Serra da Capivara segue preceitos importantíssimos de sustentabilidade. Começando pela estrutura da fábrica, que se beneficia do que a natureza oferece, o projeto arquitetônico é pensado para aproveitar a luz e ventilação natural, trazendo conforto térmico e economia de energia. Também foram instaladas cisternas que armazenam água captada da chuva. Por ser um ambiente que tem escassez de água, esse sistema ajuda em períodos de estiagem. Para seus fornos, utiliza gás natural, uma fonte de energia renovável e que gera baixa emissão de poluentes.
Em relação à matéria-prima usada, também tem forte preocupação ambiental. A argila utilizada é proveniente de barragens mapeadas na região, quando na época de seca é feita a coleta e restauro das barragens, assim não se utiliza argila de escavação do solo e jazidas de mineração. As tintas usadas na cobertura das peças são a base de corantes naturais. E a empresa segue normas de vigilância sanitária e tem certificado ambiental sobre o descarte dos materiais.
A empresa já ganhou diversos prêmios por conta de sua sustentabilidade. E a gerente e hoje proprietária Girleide Oliveira enaltece sua produção ao destacar que os produtos têm enorme valor agregado, pois conecta responsabilidade social, ambiental, territorial e comunitário.
Se você quer visitar o Parque Nacional Serra da Capivara e conhecer a produção das peças de cerâmica os melhores períodos são janeiro, fevereiro, março, julho, agosto e dezembro. Segundo Girleirde “Estas épocas são ótimas para passeios e trilhas. Recebemos turistas de diversos lugares e aos que se hospedam aqui no nosso albergue, facilitamos o contato com o guia turístico, que também são das proximidades do Parque”
Para maiores informações sobre a produção de artesanato de peças de cerâmica acesse: https://www.saoraimundo.com/ceramicacapivara/
Texto por Laura Landau.
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Fontes:
Silva, Paulo Oliveira. Responsabilidade socioambiental da Empresa Cerâmica Artesanal Serra da Capivara: análise da percepção da comunidade local do entorno do Parque Nacional Serra da Capivara. 2016.