Pequenos empreendedores
(Foto: gettyimages, 2022)

Comprar do pequeno negócio é muito mais do que uma escolha de consumo, é um ato que inspira transformação cultural, econômica e social. No Brasil, essa filosofia ganha contornos especiais quando voltamos nosso olhar para o artesanato. Das rendas delicadas do Nordeste às cerâmicas do Centro-Oeste, passando pela cestaria indígena da Amazônia e o design urbano contemporâneo, o artesanato brasileiro reflete a alma diversa do nosso povo e movimenta comunidades inteiras. Ao optar por produtos feitos à mão por artesãos locais, consumidores e empreendedores juntos fortalecem tradições, impulsionam a economia regional e promovem a sustentabilidade. 

 

Artesanato Brasileiro: Cultura Viva e Riqueza Econômica 

(Foto:Thais Lima l Imaginário Brasileiro,2023)
(Foto:Thais Lima l Imaginário Brasileiro,2023)

O artesanato brasileiro é uma das expressões culturais mais ricas e diversas do mundo. Em cada região do país, técnicas e estilos específicos florescem de acordo com matérias-primas locais, costumes e heranças ancestrais. Essa variedade vai desde peças de barro modeladas no interior de Pernambuco até tramas de capim-dourado brilhando no Jalapão, Tocantins. Essa variedade cultural, por si só, já justifica a valorização do artesanato. Mas precisamos olhar também para a dimensão econômica: a atividade artesanal permanece ativa em 78,6% dos municípios brasileiros, gerando ocupação e renda em boa parte do território nacional, segundo dados do Sebrae no Painel de Inteligência Setorial do Artesanato.    

Vale lembrar que os pequenos negócios como um todo, categoria que abrange a maioria dos empreendimentos de artesanato, formam a espinha dorsal da economia nacional. As micro e pequenas empresas representam cerca de 30% do PIB brasileiro e são responsáveis pela esmagadora maioria das novas vagas de trabalho. Somente em 2023, por exemplo, os pequenos negócios responderam por 80% dos empregos formais gerados no país, segundo artigo da CNN Brasil “Cinco dados que comprovam a importância dos pequenos negócios para o Brasil”. Além disso, correspondem a mais de 95-99% do total de empresas, evidenciando a capilaridade desses empreendimentos em nossa sociedade, de acordo com “Compre do Pequeno”, nova campanha do Sebrae que valoriza conexão entre pequenos negócios e clientes.  

Quando fortalecemos o artesanato local, estamos igualmente fortalecendo esses pequenos negócios que geram o primeiro emprego de muitos brasileiros e fazem o dinheiro circular no bairro e na comunidade. Assim, comprar do pequeno significa investir no crescimento distribuído e sustentável do Brasil. Cada peça adquirida diretamente de um artesão é um voto de confiança na economia local e criativa. 

É interessante notar que, nos últimos anos, o artesanato brasileiro tem ganhado ainda mais visibilidade e participação de novos empreendedores. Impulsionadas muitas vezes pela necessidade, como ocorreu durante a pandemia de Covid-19, milhares de pessoas passaram a empreender com produtos feitos à mão, descobrindo no talento artesanal uma alternativa de renda e realização pessoal. Dados do Sistema de Informações Cadastrais do Artesanato Brasileiro (SICAB) mostram um crescimento surpreendente: somente nos primeiros oito meses de 2022, o número de artesãos formalizados mais que dobrou em relação ao início do ano. Essa onda de novos artesãos reflete um movimento de redescoberta do valor do trabalho manual. Seja por paixão, seja para “driblar o desemprego ou complementar renda”, cada vez mais brasileiros ingressam no setor, trazendo inovação e criatividade sem abrir mão da tradição. 

 

Impactos Sociais e Sustentáveis de Comprar do Pequeno 

Mulher Yanomami tecendo cesto
(Foto: Amanda Latosinski/ISA, 2010)

Comprar do pequeno não é apenas uma transação comercial; é um ato de impacto social. O artesanato é um dos setores que mais promovem a inclusão social e econômica no Brasil, como citado no artigo “Artesanato sustentável: como aplicar ESG no percurso produtivo”, publicado pelo CRAB Sebrae.  

Em muitas comunidades, especialmente no interior e em áreas de vulnerabilidade, a produção artesanal é fonte de sustento para famílias e um vetor de empoderamento de minorias. Estima-se, por exemplo, que a maioria dos artesãos brasileiros seja composta por mulheres, muitas delas chefes de família que encontraram no trabalho manual uma forma digna de geração de renda. Ao prestigiar o produto dessas artesãs, o consumidor estimula a autonomia financeira feminina e a participação delas na economia local. Além disso, iniciativas artesanais frequentemente envolvem cooperativas ou associações comunitárias, abrangendo pessoas de baixa renda, jovens aprendizes e grupos tradicionalmente marginalizados. Cada peça vendida ajuda a distribuir melhor a renda na base da pirâmide social e mantém vivas atividades econômicas em locais onde, muitas vezes, as oportunidades formais de emprego são escassas. Não é exagero dizer que, por trás de um simples objeto artesanal, pode haver o sustento de uma comunidade inteira. 

Outra dimensão fundamental do comprar do pequeno aplicado ao artesanato é a sustentabilidade ambiental e cultural. Em tempos de consumo consciente, os compradores buscam produtos com história, identidade e que causem menos impacto negativo ao planeta. E o artesanato atende exatamente a essa tendência que “veio para ficar”. Primeiro, porque valoriza materiais naturais, técnicas tradicionais e a produção em pequena escala, geralmente com baixo uso de energia e sem os resíduos poluentes típicos da grande indústria. Nas mãos de um artesão, fibras vegetais, barro, madeira de reflorestamento, retalhos de tecido ou metal reciclado ganham nova vida em forma de arte utilitária. Esse reaproveitamento de recursos e uso de matérias-primas renováveis coloca o setor artesanal em sintonia com práticas de ESG (ambiental, social e governança) hoje, muitos artesãos brasileiros adotam medidas sustentáveis em seu processo produtivo, minimizando desperdícios, usando insumos ecológicos e garantindo uma produção ética e transparente. O resultado são produtos únicos, de alta qualidade e baixa pegada ecológica, que encantam não só pela estética mas também pela história e pelos valores embutidos. 

Comprar do pequeno no contexto do artesanato significa consumir com propósito. Cada real gasto na feira de artesanato, na loja colaborativa do bairro ou na plataforma online do pequeno produtor retorna em forma de benefícios coletivos: empregos, autoestima comunitária, preservação cultural e cuidado ambiental. Essa tomada de consciência ganha força inclusive entre as novas gerações e no mercado da moda e design. Hoje vemos arquitetos, decoradores e estilistas incorporando peças artesanais em projetos, justamente pela aura de autenticidade, exclusividade e sustentabilidade que elas carregam, conforme conta o artigo “Artesanato na moda e na decoração é tendência em 2023”, publicado pelo Sebrae. Valorizar o feito à mão tornou-se sinônimo de bom gosto e responsabilidade, conectando o consumidor a uma história maior e a um Brasil mais diverso e humano. 

 

Inspire-se e Faça Parte desse Movimento 

Cesto Wii em processo de confecção pelos Yanomami
© Edson Sato (Foto: Amanda Latosinski/ISA, 2010)

O fortalecimento do artesanato brasileiro depende de escolhas conscientes no dia a dia. Para o consumidor final, comprar do pequeno representa a chance de adquirir produtos com alma e história, sabendo que seu dinheiro terá destino justo e transformador. Em vez de objetos padronizados de grandes redes, levar para casa um item artesanal significa valorizar a criatividade brasileira, decorar a vida com originalidade e ainda impulsionar a vida de um pequeno empreendedor e sua comunidade.  

Para os empreendedores artesãos, esse movimento traz um recado claro: há um público crescente em busca de autenticidade, sustentabilidade e conexão humana nos produtos que consome. Investir em técnica, design e divulgação, sem perder a essência cultural, pode abrir portas para novos mercados e parcerias. Hoje existem feiras, marketplaces digitais e programas de apoio (como os do Sebrae, Artesol, PAB e outros) prontos para ajudar o artesão a aprimorar seu negócio e alcançar clientes dentro e fora do Brasil. 

 

Referências 

BRASIL. Lei nº 13.180, de 22 de outubro de 2015. Dispõe sobre a profissão de artesão. Diário Oficial da União, Brasília, DF, 23 out. 2015. (Exemplo de legislação citada em ABNT apenas para referência.) 

CNN BRASIL. Cinco dados que comprovam a importância dos pequenos negócios para o Brasil. 23 jun. 2024. Disponível em: https://www.cnnbrasil.com.br/economia/negocios/cinco-dados-que-comprovam-a-importancia-dos-pequenos-negocios-para-o-brasil/. Acesso em: 17 jun. 2025. 

MELO, Ana Clara. Pesquisa Artesol: uma visão sobre o artesanato brasileiro, um universo em transformação. Artesol, 06 jun. 2025. Disponível em: https://artesol.org.br/stories/pesquisa-artesol-uma-visao-sobre-o-artesanato-brasileiro-um-universo-em-transformacao/. Acesso em: 17 jun. 2025. 

RUBIN, Débora. Capim dourado se transforma em ouro nas mãos de artesãs do Jalapão. WWF-Brasil, 04 jan. 2024. Disponível em: https://www.wwf.org.br/?87660/Capim-dourado-se-transforma-em-ouro-nas-maos-de-artesas-do-Jalapao. Acesso em: 17 jun. 2025. 

SEBRAE. “Compre do Pequeno”: nova campanha valoriza conexão entre pequenos negócios e clientes. Agência Sebrae de Notícias, 30 set. 2024. Disponível em: https://agenciasebrae.com.br/cultura-empreendedora/compre-do-pequeno-nova-campanha-valoriza-conexao-entre-pequenos-negocios-e-clientes/. Acesso em: 17 jun. 2025. 

SEBRAE. Artesanato na moda e na decoração é tendência em 2023. Agência Sebrae de Notícias, 28 mar. 2023. Disponível em: https://agenciasebrae.com.br/cultura-empreendedora/artesanato-na-moda-e-na-decoracao-e-tendencia-em-2023/. Acesso em: 17 jun. 2025. 

SEBRAE. Artesanato vive movimento de crescimento de demanda e do número de profissionais cadastrados. Agência Sebrae de Notícias, 05 out. 2022. Disponível em: https://agenciasebrae.com.br/cultura-empreendedora/artesanato-vive-movimento-de-crescimento-de-demanda-e-do-numero-de-profissionais-cadastrados/. Acesso em: 17 jun. 2025. 

SEBRAE. Artesanato sustentável: como aplicar ESG no percurso produtivo. Centro Sebrae de Referência do Artesanato Brasileiro (CRAB), 22 nov. 2024. Disponível em: https://crab.sebrae.com.br/artesanato-sustentavel-esg-produtivo/. Acesso em: 17 jun. 2025. 

SEBRAE. Case de Sucesso: Maria Soares – Artesanato, História e Memória. Sebrae Ceará, atualizado em 17 jul. 2024. Disponível em: https://sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/ufs/ce/sebraeaz/case-de-sucesso-maria-soares-artesanato-historia-e-memoria. Acesso em: 17 jun. 2025. 

Foto (Imagem destacada no texto): Artesão de rua em Olinda, Pernambuco, Brasil, esculpindo uma peça de madeira – Foto de Wilfredor, 2014 (Wikimedia Commons, CC BY-SA 3.0).