Práticas e exemplos para valorizar o artesanato brasileiro com sustentabilidade e responsabilidade social

A integração das práticas de ESG (ambiental, social e governança) no setor artesanal está ganhando força, permitindo que cada artesão contribua para um futuro mais sustentável e consciente. Mas como aplicar o ESG na sua produção artesanal? Desde a escolha da matéria-prima até a divulgação de boas práticas, existe um caminho produtivo que conecta sustentabilidade e tradição, valorizando ainda mais o trabalho artesanal. Neste artigo, vamos explorar as práticas ESG para o artesanato, abordando exemplos do Brasil e oferecendo dicas para você implementar o ESG no seu ateliê ou produção.

Trabalho com sobras de madeira certificada e com cipó extraído de forma sustentável, na Floresta Amazônica, está em risco de extinção. (Foto: Agência Sebrae)

Mas, afinal, o que é ESG?

A sigla vem do inglês (Environmental, Social, and Governance), mas em bom português quer dizer: ambiental, social e governança. Cada uma dessas áreas reflete uma preocupação específica: o Ambiental foca em práticas que minimizam o impacto ao meio ambiente, o Social se dedica à responsabilidade com as pessoas e as comunidades, enquanto a Governança trata da forma como o negócio é gerido, garantindo transparência e ética.

No contexto do artesanato, isso significa incorporar ações e práticas que ajudem a reduzir os impactos negativos e valorizar o trabalho local, promovendo um modelo mais responsável e sustentável.

No aspecto Ambiental, artesãos que aplicam ESG buscam adotar práticas que protejam a natureza, principalmente a preocupação com os recursos hídricos e desperdício de energia, e que incentivem o uso de matérias-primas renováveis ou recicláveis.

A dimensão Social se traduz em apoiar a inclusão social e a geração de renda, especialmente em comunidades locais e entre minorias. Já a Governança abrange a prática de uma remuneração justa, responsabilidade e a transparência, o que, para o artesão, significa garantir que o processo produtivo e a história de cada peça sejam compartilhados com os clientes.

Aplicar ESG na produção artesanal vai além da criação de produtos; é uma forma de preservar a cultura e construir um impacto positivo para as pessoas e o planeta (Foto: Artesãs de Aracatiaçu, no interior do Ceará – Uol)

ESG no artesanato: um percurso produtivo sustentável

1.Matéria-Prima e Reaproveitamento de Recursos

No início do percurso, a escolha da matéria-prima sustentável é fundamental. Materiais como fibras naturais, madeira de reflorestamento ou até mesmo reaproveitamento de recursos, como tecidos reciclados, são opções que minimizam o impacto ambiental. Considere buscar fornecedores locais e, sempre que possível, escolha materiais que apoiem a preservação de biomas brasileiros.

Dica Prática: Tente implementar uma triagem para separar e reutilizar os resíduos do seu trabalho. Esse simples passo reduz o desperdício e valoriza a sustentabilidade em cada peça produzida.

2.Produção Consciente e Redução de Desperdícios

A eficiência no uso de recursos durante o processo de produção é outra prática ESG que pode fazer uma grande diferença. Calcule a quantidade exata de matéria-prima para cada peça e opte por técnicas que permitam o aproveitamento máximo dos materiais, minimizando o desperdício e o descarte.

Artesão do Núcleo de Arte e Cultura Indígena de Barcelos (NACIB), no Amazonas, trança fibra de piaçava (Foto: Felipe Abreu / Divulgação)

Exemplo Inspirador: No Amazonas, artesãos indígenas têm liderado projetos de coleta de resíduos naturais, transformando-os em produtos que promovem a biodiversidade e apoiam a economia local.

3. Inclusão de Renda e Apoio Comunitário

O artesanato é um dos setores que mais promovem a inclusão social e econômica. Considerar o ESG na sua produção significa promover oportunidades para pessoas de diferentes contextos sociais e econômicos. Incluir mulheres, pessoas de baixa renda e grupos minoritários fortalece a sua produção e gera um impacto positivo na comunidade.

Boas Práticas: Envolva a comunidade nas fases de produção, criando parcerias com cooperativas locais ou treinando novos artesãos. Esse engajamento social enriquece seu trabalho e fortalece a comunidade ao seu redor.

4. Preservação da Cultura e Tradição Artesanal

Uma produção baseada em ESG valoriza a herança cultural e fortalece a governança responsável. Conectar-se com a história e as tradições da sua comunidade, respeitando técnicas ancestrais, contribui para a preservação de uma identidade cultural única. Para o artesão, isso significa também comunicar o valor do seu trabalho e da sua cultura aos clientes.

Dica para Valorização e Divulgação: Compartilhe com o público a história por trás de cada peça. O uso das redes sociais para contar o percurso produtivo e ressaltar o compromisso com o ESG é uma excelente maneira de comunicar esses valores aos consumidores.

Os artesanatos produzidos pelos indígenas são feitos desde sementes a fibras, pedras, cipós e madeiras da floresta (Foto: Bruno Kelly/FAZ, 2019)

 

Percurso Produtivo ESG: Passo a Passo para o Artesão 

Para te ajudar ainda mais, confira uma lista com mais ações de natureza ambiental, social e de governança. Que tal começar a aplicá-las hoje mesmo? 

(Fonte: Cartilha Sebrae Amazonas, 2023)

Ao aplicar as práticas de ESG na sua produção artesanal, você não só contribui para a sustentabilidade e inclusão social, mas também fortalece a identidade do seu trabalho. Esse percurso produtivo sustentável é uma forma de transformar o seu negócio artesanal em um projeto que gera impacto positivo e valoriza a cultura brasileira. Comece implementando pequenas mudanças e observe como cada prática ESG agrega valor ao seu artesanato, tornando-o um verdadeiro agente de mudança. 

Bibliografia

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