Conheça o artesanato que conecta o mar e o céu
Marcelo Baptista é um artista do mundo. Sua obra tem começo no mar, onde o material, vindo das ondas, não tem selo de origem e pode ter percorrido muitos locais, assim como seu criador. O artesão nasceu em 1962 em Montevidéu, Uruguai, mas tem dupla nacionalidade: é filho de mãe paulista e pai carioca.
Faz arte desde criança e trabalha profissionalmente com artesanato e artes plásticas desde muito antes de se formar na Escola Nacional de Belas Artes, em Montevidéu, em 1992. Expõe e vende o seu trabalho desde 1983 em cidades como Belém (PA), Fortaleza (CE), Recife (PE), Olinda (PE), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Brasília e, desde o ano 2000, em Florianópolis (SC). Se chama pelos dois nomes: artesão e artista plástico, e assim como muitos criativos brasileiros não dá mais peso a nenhum dos dois rótulos, pois sua paixão é criar.
O mar traz, o artesão cria
Atualmente mora no sul da ilha de Florianópolis, em Santa Catarina e foi ali, há 24 anos, que começou a criar esculturas feitas com madeiras trazidas à deriva pelo mar. Ele se refere ao seu material como “madeiras flutuantes” que carregam consigo o mistério de suas origens e a própria expressão da vida e do tempo em suas sugestivas formas orgânicas e texturas. Talvez porque formaram parte de árvores, habitats de muitos animais, elas lhe sugerem pássaros diversos, geralmente imaginários, mas também inspirados em aves da região.
Marcelo deixa claro que nem que quisesse poderia fazer uma peça igual a outra, pois a natureza não é replicável, assim como o artesanato e assim, cada uma de suas obras leva uma mistura de DNAs: da própria árvore, da vida dos seres do mar, das mãos e criatividade do artista e dos pássaros, resultando no hibridismos de tudo que veio para que nascessem. O conceito da ecologia é norteador nas suas obras, e contribui para a criação a partir do que se tem a disposição na natureza, sem ferir o meio ambiente e dando novo significado a materiais que normalmente as pessoas demoram a dar valor.
O processo de criação de um pássaro do mar
Seu processo produtivo é orgânico assim como o material. Em um garimpo marítimo, Marcelo passeia pelas praias de Florianópolis atrás de galhos, raízes, troncos e pedaços de madeira que o mar oferece. Ao achar um fragmento que lhe agrada analisa se está em condições boas e se o formato é interessante. Na maioria das vezes é a forma que direciona para o tipo de escultura que irá fazer. Depois de recolhido o material é o momento de ir para o ateliê e desenvolver a obra. Faz o acabamento podendo usar lixa, serras, pregos e outros instrumentos. Quando a peça está montada vem a pintura, utiliza, na maioria das vezes, tinta acrílica, dando cor aos pássaros que finalmente nascem. Muito característico de suas obras, os olhos, também pintados, trazem a sugestão do tipo de olhar que o animal lança para os espectadores, às vezes brincalhão, às vezes ameaçador. E assim vai criando a sua revoada marinha.
“Arte, pra mim, é Manifestação, é transformar as coisas. Uma forma de materializar o Espírito, ou de espiritualizar a Matéria. É caminhar na trilha do Ser, no sentido da Liberdade e da Beleza. Estar no Fazer, sem fazer. Brincadeira (muito séria!) de Criança.” (Texto do site do artesão)
Marcelo nos conta que como animais vivos, que são adorados por pessoas, seus pássaros também se conectam aos corações humanos, que com o encontro entre espécies imaginárias e viventes o casamento acontece. Como em um caso relatado em que uma de suas aves, que tinha um metro de altura, apesar de ser admirada por muitos, ainda não tivera comprador nas últimas feiras que participou. Foi então que na FENACCE (Feira Nacional de Artesanato e Cultura – Ceará) de 2024, uma senhora de 87 anos, viu o pássaro e sem pensar duas vezes, comprou e saiu carregando-a no braço, de tanto que se conectou não quis nem usar as embalagens cuidadosamente feitas pelo artesão para cada uma de suas peças. O objetivo era presentear sua mãe que iria amar a obra.
Atualmente suas peças compõe nosso acervo do CRAB, e da Universidade do Amazonas (UNAMA) em Belém (PA) assim como coleções particulares em vários países da Europa e das Américas. Marcelo foi um dos artesãos homenageados na exposição do CRAB de 2024 – Solo Criativo: Uma homenagem aos artesãos do Brasil.