A relação entre arte do Mestre Nicola e seu território convergem de maneira muito singular. Advém de nossa história enquanto país revelando a forte influência da Igreja Católica na colonização portuguesa no Brasil e seus desdobramentos em nossos aspectos sociais e culturais.
O nordeste brasileiro foi durante os primeiros séculos de colonização o principal polo econômico da coroa portuguesa e amparado no ciclo da cana de açúcar, estimulou o desenvolvimento local, impulsionando a criação de uma pequena corte de senhores de engenho e suas famílias que vivenciavam no Brasil um espelhamento dos modos e costumes de Portugal.
O recorte do nordeste no período colonial aponta para Pernambuco com uma das regiões mais prosperas da coroa se tornando entre os séculos XVI e XVII um polo da vida social, política e econômica da colônia em virtude das grandes plantações de cana-de-açúcar do litoral conhecido como Zona da Mata.
A Igreja Católica por sua vez acompanhou o processo de colonização no Brasil, colaborando construção de nossa arte colonial expressa principalmente na construção e ornamentação de igrejas através de escultura, desenho, pintura e arquitetura.
A arte religiosa herdada do período colonial é reverenciada hoje com tombamentos pelo IPHAN em diversos estados brasileiros como Pernambuco, que mantem a estética das Igrejas e santos por meio de ações de pesquisa e preservação servindo de apoio para estudos sobre o cotidiano do Brasil colonial.
A Igreja do Carmo de Olinda é um ótimo exemplo para entendermos a relevância desta herança colonial no trabalho do Mestre Nicola e em nossa arte religiosa contemporânea.
Ela é uma construção do fim do século 17, composta por um altar principal e dez altares laterais.
O centro do altar principal abriga uma imagem de Nossa Senhora do Carmo doada por dona Maria I (1734-1816), rainha de Portugal e é cercada pelas esculturas dos profetas fundadores da Ordem do Carmo, Santo Elias e seu discípulo, Santo Eliseu.
A Igreja do Carmo foi um dos primeiros bens a serem tombados pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN e encontra-se aberta para a comunidade para festividades e alguns eventos religiosos.
Através da arquitetura barroca das Igrejas conseguimos entender a magnitude da Igreja católica no período colonial e sua influência atualmente refletido principalmente nos rituais, festejos e arte.
O artesanato e religiosidade
Quando pensamos em herança somos induzidos a idealizar uma relação de parentesco, algo que é transmitido a partir do indivíduo em sua cadeia familiar. Essa percepção não está errada e no caso do artesanato brasileiro pode ser estendida a noção de imaginação coletivo vivenciado, como no caso do trabalho do Mestre Nicola.
A herança do Mestre Nicola está relacionada a nossa tradição colonial religiosa. Por séculos o catolicismo foi declarado a única religião do Brasil, seguindo com forte influência e fiéis até a atualidade.
De família católica, Mestre Nicola cresceu ajudando as Missas do convento do colégio Imaculadas Conceição e no convento de São José despertando admiração e respeito pelas peças sacras.
Foi através da experiência como membro da igreja e a observação de cada detalhe dos santos e anjos que decoravam as paredes que o mestre Nicola encontrou sua vocação como artista.
Mestre Nicola é fruto de um Brasil diversificado, mas de profundas raízes colonizadoras. Ele é portador de uma técnica precisa e rica em detalhes e que nos presenteia através do entalhe esculturas que mantem viva a tradição de nossa arte sacra.