Maragogipinho – Recôncavo Bahiano – município de Aratuípe
Situado no recôncavo baiano, o distrito de Maragogipinho pertence ao município Aratuípe e faz da cerâmica sua principal atividade produtiva há pelo menos três séculos1, tornando essa arte referência ancestral na região com forte influências afro-indígenas desde a extração do barro á encantadora variedade de objetos produzidos.
Maragogipinho é um ótimo exemplo da profunda relação dos habitantes com o território e suas histórias. Estima-se que atualmente existem centenas de olarias na região, preservando o estilo de produção que revela o passado das origens de nosso país. Sendo facilmente identificados pelas temáticas e usos, são peças religiosas tanto católicas (santos) quanto afro-brasileiros (quartinhas, talhas e porrões para água), decorativos (boi-bilha, baiana, porco-cofre, vasos, luminárias) e utilitários (porta-incenso, gameleiras, travessas, panelas, pratos, moringas).
À beira dos rios Maragogipinho e Jaguaripe, é possível observar o fluxo da cidade nos encontros e partidas de materiais, artistas e objetos em torno da cerâmica e das pinturas que abrilhanta a finalização dos produtos com a extração de pigmentos naturais como Tauá e Tabatinga que dão os tons de vermelho e branco.
A economia de Maragogipinho é tão potente em torno deste ofício que o distrito possui um museu virtual dedicado à arte em cerâmica (https://museudobarro.digital/) e realiza anualmente um Festival destinado ao comércio, apresentações artísticas e debates culturais sobre este tema, contando com o suporte de órgãos da administração pública e universidades. Isso reforça a importância das tradições locais como impulsionadores da economia local.
Mestres e artesãos expoentes
Rosalvo Santana
Mestre Rosalvo Santana é percursor da arte santeira em cerâmica em Maragogipinho. Cresceu vendo seu pai, Aniordes Santana, mais conhecido como Mestre Roxinho, manusear o barro na criação de utilitários, e adulto descobriu sua aptidão na criação de imagens sacras e figurativas.
Suas peças possuem identidade própria, transbordando talento e técnica aguçada misturando os estilos barroco e rococó, tornando as peças produzidas rica em detalhes avolumados.
Mestre Vitorino Moreira
Mestre Vitorino Moreira cresceu em meio a cerâmica no distrito de Maragogipinho, mas relatou diversas vezes que sua paixão pelo ofício foi despertada na fase adulta. Tudo a sua volta remetia a arte no barro, bem como a criação dos objetos que aos seus olhos pareciam iguais. Até a similaridade de seu nome com Mestre Vitalino, seu contemporâneo o fazia não ter tanto encanto pela cerâmica.
Trabalhar com barro foi por sobrevivência e torna-se um mestre deste ofício foi o encontro do destino. Fugindo das réplicas e de criações já estabelecidas na sua região, Mestre Vitorino inovou criando sua própria identidade no barro. Ele fez a junção de duas peças muito procuradas dando a vida ao boi-bilha, peça de artesanato que une a figura do boi nordestino e a bilha, utensilio muito conhecido por armazenar cachaça.
Por essa criação, mestre Vitorino ganhou o prêmio do objeto brasileiro em 2022, concedida pelo museu A Casa de São Paulo e recebeu Menção Honrosa da Organização das Nações Unidas (ONU), no Festival de Artesanato dos Países da América Latina e Caribe.