Os bate-bolas são personagens típicos do carnaval carioca e trazem consigo a mística e a tradição dos mascarados que se espalham por todo o Brasil. Com mais de cem anos de atividade, os grupos de Clóvis ocupam o subúrbio da cidade do Rio de Janeiro, como as regiões das zonas Norte e Oeste, e parte do estado, principalmente na Baixada Fluminense. A produção das fantasias é realizada ao longo do ano, misturando tecnologia e artesanato, para que os bate-bolas levem cor e brincadeira para o carnaval da cidade maravilhosa.
Origem na mistura da tradição europeia com a brasileira.
Esses brincantes surgem a partir de típicas manifestações brasileiras que misturam culturas europeias dos colonizadores com festejos nacionais. Em sua pesquisa de mestrado, Aline Gualda Pereira identificou que a origem vem da simbiose de manifestações da Alemanha e da Península Ibérica com brasileiras, como a Folia de reis. No início as fantasias dos Pierrôs ou Clowns (palhaços em inglês) eram utilizadas por mulheres. Com sua maior popularização, passaram a se chamar Clóvis, em uma derivação da palavra gringa, e os homens assumiram o protagonismo da brincadeira.
O bate-bola é um personagem da tradição do palhaço com feição que pode causar espanto, porém também provoca deslumbramento pelas belíssimas roupas com suas cores e pinturas elaboradas. Eles não querem passar despercebidos, e se não bastasse a roupa e a máscara, muitos carregam bolas de plástico, que anteriormente eram feitas de bexiga de boi. Ao baterem o artefato no chão, geram estrondo forte assustando os demais foliões, daí seu nome mais conhecido: bate-bolas.
Os “cabeça de turma” são responsáveis por liderar os grupos, promover as brincadeiras, organizar a produção das fantasias e os encontros ao longo do ano. Com papel fundamental, dão o tom do grupo, e em um crescente movimento coordenado por Buda, cabeça da turma Fascinação, de Oswaldo Cruz, diversos líderes estão estimulando a paz entre os bate-bolas. Promovendo encontros mensais chamados Resenhas, para que os grupos possam se encontrar fora do carnaval e manter o contato, gerando aproximação e amizade entre eles, e com isso evitando os conflitos nas ruas, muito comuns em tempos passados.
A fantasia artesanal que enfeita as ruas do Rio de Janeiro.
Composta por uma complexa taxonomia de tipos de fantasias, cada grupo se monta de uma forma variada, podendo usar diferentes adereços, como bolas, sombrinhas, bandeiras, martelos ou outros acessórios. As fantasias são compostas por máscaras, coletes, saias, calças, shorts, segundas peles, sapatilhas e tênis. Todas com cores exuberantes e brilhos. Segundo Aline Pereira, foram identificadas três variações de estilo das roupas: bujão, bufante e pirulito. Os bate-bola são uma classificação de pierrôs, mas existem outros tipos como os Pierrôs de quadro e os Rodados de Lã, entretanto não iremos abordar essas variações neste artigo.
Bate-bola e a economia criativa do carnaval.
As fantasias são produzidas ao longo do ano a partir da escolha do tema do grupo. Essa produção é fruto de um processo elaborado que integra artesanato com tecnologia, onde muitas mãos são envolvidas, movimentando a economia do carnaval. Cada fantasia pode custar até R$ 2.000,00 reais por integrante e, de acordo com Marcelo Índio, líder do grupo Índios, os bate-bolas têm a maior receita do carnaval carioca em termos de varejo, usufruindo de atendimento especializado em lojas como Caçula e Palácio das Plumas, comércio voltado para venda de acessórios usados na confecção de fantasias no Rio de Janeiro. Segundo Buda, cabeça da turma Fascinação de Oswaldo Cruz, para pagar por sua roupa completa o brincante junta dinheiro o ano todo ou parcela ao longo dos meses, sendo um investimento considerado alto, porém necessário. Tudo é produzido para que, nos dias de folia, os grupos possam sair às ruas e exibir sua produção, competindo pela admiração da fantasia mais elaborada e bonita nas ruas e campeonatos.
Em 2012, foram reconhecidos como Patrimônio Cultural Carioca e exaltados como importante expressão da tradição da cidade do Rio de Janeiro. Estima-se que existam até 700 turmas de bate-bolas, variando de 2 a mais de 100 integrantes cada.
Fontes:
GUALDA PEREIRA, Aline Valadão Vieira, Tramas simbólicas – a dinâmica das turmas de bate-bolas do Rio de Janeiro. 2008. 184f. Dissertação de Mestrado – Universidade do Estado do Rio de Janeiro, 2008.
https://www.redalyc.org/journal/1154/115464747002/html/
https://brasil.elpais.com/brasil/2017/02/27/politica/1488224740_612664.html