A produção de objetos e a conexão com a natureza é uma relação profunda que diversos povos da floresta desenvolveram. Os indígenas Baniwa, habitam diferentes regiões do Amazonas, produzem complexos trançados para estruturar suas cestarias. Essa prática tradicional é repassada de geração para geração e envolve desde o manejo do arumã e tratamento da planta, até trançado e grafismo que arranjam suas peças.
Os Baniwa são um povo indígena que ocupa diversos territórios na Amazônia. De língua aruak, esta etnia compõe um grupo de 22 povos indígenas diferentes, que tem uma ocupação secular na atual fronteira da Amazônia brasileira, colombiana e venezuelana. As suas aldeias se localizam em territórios guiados por rios tais como Rio Içana, Culari, Aiarl, Cúbate, Rio Negro e cidades como São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel e Barcelos, no estado do Amazonas. Estima-se que a população dos Baniwa seja de 12 a 15 mil indivíduos, destes 4 mil se encontram e território brasileiro espalhados por 93 povoados.
O termo Baniwa não é autodenominado e sim dado em momentos de colonização para definir os falantes da língua aruak desta região. Dentro de sua cultura e organização utilizam nomes de suas fratrias para se autodenominar: Hohodene, Walipere-dakenai ou Dzauinai.
O arumã e o artesanato
Os Baniwa usam a planta arumã para produzir diversos tipos de objetos que integram sua rotina e dão suporte ao seu modo de vida. Arumã (Iscinosiphon spp) é uma espécie herbácea encontrada em diversas áreas de florestas inundáveis localizadas em todo território Amazônico. Crescem a partir de touceiras e seu manejo está dentro de um conjunto de etnoconhecimento dos grupos étnicos locais. Esta planta é muito valorizada para a produção de cestos, peneiras, jarros, balaios e urutus. Para tais produções é utilizada a parte do caule da planta, que deve ser descascada, destalada, pintadas com corantes e fixadores naturais.
As cestarias são adornadas com diversos grafismos com símbolos de extrema importância para esse grupo. Esses foram marcados em pedra, compondo diversos petróglifos, que podem ser encontrados em diversos locais e produzidos por antepassados para eternizá-los.
Os homens são responsáveis pelos trabalhos artesanais e além das peças de arumã também produzem remos, canoas, ralos de mandioca e outros objetos. As cestarias são usadas para o tratamento da mandioca, indispensável para a alimentação dos Baniwa. Consequentemente a produção de cestos ganha extrema importância, e aquele que faz a cestaria de forma primorosa torna-se adulto e demonstra capacidade de sobrevivência. Algumas mulheres ajudam em algumas etapas como acabamento.
Os tipos de cestaria
URUTU
São cestos reservatórios, usados para guardar a massa da mandioca pré e pós espremeção no tipiti, assim como guardar outros itens alimentícios como farinha e beiju ou até mesmo roupas. Os Urutus usados no dia a dia geralmente são mais simples e nem sempre possuem grafismos, os comercializados têm um acabamento mais refinados e diversos grafismos coloridos. Os urutus podem ter diversas alturas e diâmetros.
BALAIO
Usados em rituais de iniciação, os meninos aprendem a fazer as peças para oferecer às meninas também em ritual, ao final da reclusão. As peças maiores são usadas para guardar a massa de mandioca e servir alimentos. São as mais complexas e trabalhosas e no acabamento de beira pode-se utilizar outras espécies de plantas.
PENEIRA
Apesar de feitio masculino, as mulheres utilizam o objeto no cotidiano e sentem orgulho das peças feitas por seus parceiros. Usadas no processo da produção da farinha, são importantes na manutenção da vida e alimentação dos grupos. Além da farinha também são usadas para armazenar o beiju.
JARRO
Os Baniwas chamam os jarros de kaxadádali, por conta do formato barrigudo das peças, que também é um termo utilizado para caracterizar pessoas como grávidas ou para animais. Para esse povo o formato dos jarros é o formato do universo.
Sílabas gráficas nas cestarias Baniwas artesanais
Os Baniwas usam os grafismos e trançados em suas peças como expressão, e cada arranjo ou desenho tem um significado. As crianças aprendem primeiro os trançados dos quadrados concêntricos (balaio-ele vê), para iniciar na “leitura desse alfabeto” físico e artesanal. Esses são feitos sem cor com talas cruas e estão presentes na base de todos os Urutus.
O trançado das talas de arumã permite diversas combinações de padrões geométricos, e todos tem um significado simbólico. As peças podem ter os mesmos padrões repetidos ou variados.
A maioria das informações deste texto foram retiradas do livro “ARTE BANIWA: CESTARIA DE ARUMÔ de Beto Ricardo, produzido pelo Instituto Socioambiental (ISA) e pela Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). O livro se encontra no acervo da midiateca do CRAB e o acervo técnico museológico do CRAB contém diversas peças dos povos Baniwa como cestos, caixas e jarros.
Texto por: Laural Landau
Saiba mais sobre o artesanato da Amazônia.
Fonte:
Ricardo, B. Arte Baniwa: cestaria de arumã. Instituto Socioambiental (ISA); Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN). 2001.
https://pib.socioambiental.org/pt/Povo:Baniwa
https://repositorio.inpa.gov.br/handle/1/12094
https://artebaniwa.org.br/aruma1.html