A rica história da renda de bilros, que teve início na Europa, atravessa mais de cinco séculos na trama da história têxtil global, como aponta Felippi (2021). Nesse contexto, o termo “renda de bilros” está ligado à ferramenta principal, representada por hastes de madeira nas quais os fios são habilmente enrolados.

A produção da Renda de Bilros está nos detalhes:

A produção meticulosa da renda de bilros envolve o entrelaçamento de fios sobre o pique, um cartão tingido de açafrão, com o auxílio de alfinetes e bilros. Esse pique exibe desenhos elaborados, muitas vezes criados por artesãos especializados.

Artesã produzindo Renda de Bilros
Artesã produzindo Renda de Bilros (Fonte: Biblioteca Municipal Professor Barreiros Filho)

Adaptações da Renda de Bilro

Adaptações ao longo do tempo e em diferentes regiões são evidentes, como visto no estado de Santa Catarina, Brasil, onde o tradicional molde de pique foi substituído por uma fotocópia com papel manteiga, utilizando rendas já confeccionadas como base.

Renda de Bilros sendo produzida
Artesã criando Renda de Bilro colorida (Foto: Ruy Castro)

Utilização do Rebolo

A execução do trabalho ocorre sobre uma almofada, conhecida como rebolo. Esse cilindro de pano espesso, preenchido com palha ou algodão, tem dimensões que variam conforme a peça a ser confeccionada, repousando sobre um suporte de madeira ajustável para a comodidade da rendeira.

No rebolo, é inserido o cartão perfurado, o pique, que contém o desenho da renda delineado por pequenos furos. Na área do desenho em progresso, a rendeira fixa alfinetes, movendo-os à medida que avança no trabalho. Os fios são manipulados por bilros, pequenas peças de madeira torneada ou outros materiais, como osso, manejadas aos pares pela rendeira, que imprime movimentos rotativos e alternados a cada um, seguindo a orientação dos alfinetes.

Almofada contendo Bilros
Almofada de Bilros (Fonte: GOV.BR)

Bilros

Os bilros apresentam extremidades diversas, como pêra ou esfera, dependendo da região, e o fio é enrolado na outra extremidade. O número de bilros utilizados varia de acordo com a complexidade do desenho. Um destaque interessante são os nomes dados aos pontos, que variam conforme a região do Brasil, como perna-cheia no Sul e traça no Nordeste. Há outros pontos, curiosamente denominados como aranha, feitiço-de-quatro, coentro, tijolinho, ponto-de-rato, cocada e casco-de-besouro, muitas vezes refletindo a cultura local.

Transcendendo Fronteiras

A diversidade transcende fronteiras, e o próprio nome “renda de bilros” muda de acordo com o país. Por exemplo, na Itália, existem rendas como a Cantú, de Cantú, a genovesa, de Gênova, a milanesa, de Milão, a veneziana, entre outras. Na Bélgica, França e Inglaterra, as cidades ou regiões também emprestam seus nomes para a confecção de rendas.

Na midiateca do CRAB 

Na midiateca do CRAB, encontramos verdadeiras preciosidades em forma de livros, acessíveis a pesquisadores e entusiastas do artesanato. No contexto específico da renda de Bilro, destacamos a obra “Decifrando Rendas: processos, técnicas e histórias” da pesquisadora Vera Felippi, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Dividido em quatro partes, o livro aborda desde o contexto histórico das rendas até o processo manual, passando pela produção industrial e a identificação das rendas.

Dica de leitura: Decifrando Rendas

O livro está dividido em quatro partes. A primeira contextualiza o universo das rendas, traça sua história, demonstrando a chegada dessas obras ao Brasil. A segunda parte aborda o processo manual de produção de rendas, oferecendo classificações e descrevendo técnicas, com debates em torno das classificações, buscando resoluções na base conceitual do Programa Nacional do Artesanato. A terceira parte explora o processo industrial, destacando o agrupamento dos teares, seus inventores e locais de ocorrência. No quarto capítulo, o foco é a identificação de rendas. Ao final do livro, é possível explorar o vasto universo bibliográfico que a autora consultou para sua base teórica. Se o leitor estiver interessado, recomendamos começar por essa leitura e explorar as referências indicadas na bibliografia!

 

Conheça mais sobre o artesanato brasileiro.

 

 

Para saber mais:

CORREA, Elisa. Tradição Rendeira de Santa Catarina: história, processos e técnicas da renda de bilro. 1ª ed. Santa Catarina. 2021 }
Disponível em: https://issuu.com/elisacorrea21/docs/livro_renda_de_bilro_revisado

FELIPPI, Vera. Decifrando rendas: processos, técnicas e história. 1ª ed. Porto Alegre, 2021
Disponível em: https://issuu.com/verafelippi/docs/decifrando_rendas_ebook-compacto_verafelippi

 

 

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